quinta-feira, 6 de maio de 2010

@ JOGOS QUE MARCARAM


Vasco 5 x 2 Corinthians - 1980
Competição: Campeonato Brasileiro
Local: Maracanã
Data: 04/05/1980
Destaque: A volta de Roberto ao Vasco.

Por Mílton Costa Carvalho
Alguma força estranha pairava sobre o Maracanã. Oxum, Oxalá, Xangô ou o Senhor do Bonfim, alguém protegia o fantástico Roberto Dinamite. E ele soube agradecer maravilhosamente, herói de uma noite inesquecível.
Os gols foram surgindo naturalmente. Um atrás do outro, e nascendo sempre dos mesmos pés, abençoados pés. Havia mesmo uma atmosfera mística a envolver o Maracanã, uma força capaz de afastar os mais temíveis inimigos. Como, por exemplo, a Fla-Fiel - casuística coligação entre flamenguistas e corintianos, as duas maiores torcidas do país.
No outro extremo da arquibancada, todos eram devotos de uma mesma religião: Roberto Dinamite. Mas quem protegia o artilheiro? Que estranho poder o tornava tão auto-suficiente no momento de chutar a gol? Oxum? Xangô? O Certo é que no final da festa, já no pátio do Maracanã, Jurema falava com o marido Roberto sobre os projetos para esta quarta-feira:
- O Vasco, eu e Roberto estaremos quarta-feira em Salvador. Eu e meu marido teremos de pagar uma obrigação.
Certamente irão agradecer a seus santos protetores o grande dia de Roberto, os cinco gols maravilhosos que marcou em cima da respeitada defesa do Corinthians.
Um dia que, talvez por supertição, Roberto tentou cumprir dentro da rotina que conhece há seis anos. Acordou cedo e, no trajeto de São Januário até o Maracanã, fez questão de viajar na poltrona 17 do ônibus do Vasco - como sempre fez. Ao chegar no estádio, estranhou o enorme público para um jogo entre dois times classificados. Em seu íntimo sabia que teria de deixar seu gol, provar que o Barcelona estava enganado quando o devolveu ao Brasil com sérios reparos a seu futebol.
No vestiário, enquanto o roupeiro lhe entregava o material de jogo, ele já ouvia o coro da galera: "Roberto, Roberto, Roberto." O artilheiro, então, tremeu, se emocionou, quase chegou a chorar. Mas, na hora, lembrou-se que devia agir rotineiramente, como se nunca tivesse se afastado do estádio que o consagrou, do povo que tanto o alegrou.
Em campo, apesar da festa da torcida, da grande faixa com os dizeres "Com Dinamite o Vasco volta a ter cheiro de gol", procurou não perder a concentração. Quando Caçapava abriu o placar, seu nome foi gritado a plenos pulmões nas arquibancadas. Sua resposta veio dois minutos depois: estufou as redes de Jairo uma vez, depois duas, três, quatro, cinco vezes - uma maravilhosa chuva de gols. Foram seis chutes, cinco gols, uma bola no corpo de Jairo e uma cabeçada fora. Um prêmio à sua obsessão em cumprir seus movimentos, rotineiramente, como faz há seis anos no Vasco? Dinamite desconversa, mas acaba revelando suas convicções místicas:

- Fazer gols também faz parte da minha rotina. Por isso tentei fazer tudo rotineiramente. Pensei: sempre fui artilheiro. Quem sabe fazendo tudo como nos meus seis anos de Vasco volto a ser o grande artilheiro do time? Deu certo.

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